sexta-feira, 17 de abril de 2020

Música: Vários
Banda: Vários
Álbum: Vários
Compositores: Vários






Analíses músicais do meu TCC


O post de  hoje será muito especial. Pois trata-se de algumas das analises que fiz em meu Trabalho de conclusão de curso da faculdade de História, realizado em 2016, sobre rock e Ditadura militar no Brasil e na Argentina. Essas analises foram baseadas em leituras de livros sobre o tema, entrevistas e contexto histórico em que essas letras foram compostas.


A primeira canção que analisaremos é Hipercandombe da banda La Máquina de Hacer Pajáros, fundada na década de 70. A banda teve dois discos gravados, o primeiro no ano de 1976, intitulado com o mesmo nome da banda, e o segundo, de 1977, chamado Películas. Essa banda durou pouco tempo, tendo encerrado suas atividades no ano de 19773. O nome da banda já traz uma mensagem crítica, pois segundo Charly Garcia, músico e compositor da mesma, os “pássaros produzidos pela máquina”, na realidade, eram as músicas do grupo. (FAVORETTO, 2013,
p.134). A letra da música em questão, que saiu no álbum Películas (1977), enaltece:



Cuando la noche te hace desconfiar /yendo por el lado del río,/la paranoia

es/quizás nuestro peor enemigo/Cubrís tu cara y tu pelo también/como si


Na letra dessa música, podemos perceber algumas mensagens implícitas contra o regime militar portenho. O trecho acima retrata e enfatiza a questão da paranoia em que se encontravam as pessoas durante o regime militar. Já no trecho específico, “Cubra seu rosto e seu cabelo também/ como se você tivesse com frio/ mas na realidade/ você quer escapar de alguma confusão”, destacam-se os problemas que os roqueiros argentinos enfrentavam, visto então que cobrir o rosto e os cabelos para escapar da “confusão” era uma forma de passar desapercebido pelos policiais e não ser preso, isso porque cabelo grande era um problema naquela época.

Outra música da banda que também trazia mensagens escondidas sobre o regime foi a canção Películas (Que se puede hacer salvo ver) do álbum Películas, de 1977. Como forma de elucidação, citaremos alguns trechos da canção:



Ella es una actriz,/se seca y mira el mar, se viste de plata,

nadie la viene a buscar,/no espera que toquen el timbre
se monta en un convertible/y se va, ya verán
Salgo a caminar para matar el rato /y de pronto yo la veo entre los
autos/justo cuando la luz roja cierra el paso/ me acercaré al convertible,/le
diré: "quiero ser libre, llévame, por favor"/¿Que se puede hacer salvo ver
películas?


Essa canção traz uma crítica já no seu título que demonstra a questão do que se pode fazer em uma ditadura, onde “tudo” era reprimido. No trecho acima, temos o seguinte: uma pessoa que assiste a um filme relata o que está acontecendo em uma cena, onde a atriz principal está parada olhando para o mar e “de repente” entra em seu conversível e, ao sair daquele local, no segundo trecho, o interlocutor caminha para matar o tempo e vê entre os carros uma luz vermelha (sirenes de um carro de polícia). Assim, resolve querer entrar no carro conversível junto com a atriz, porque ele quer ser livre; pede, ao mesmo tempo, que a atriz leve-o junto com ela, pois o que se pode fazer exceto ver filmes? Em suma, percebe-se, na música, uma confusão da primeira pessoa entre ficção e realidade. 

León Gieco foi outro cantor que passou mensagens em suas canções fazendo uso da metáfora. Um caso em que isso ocorreu foi na música
Tema de Los Mosquitos.

Todas las abejas y todas las ovejas/fueron masacradas por la gran araña...

...Ay, que vida es esta dijo un cazador /salieron a matarse todos los
animales oh oh oh (León Gieco, )

Ao interpretarmos os trechos supracitados, temos as abelhas e as ovelhas como as pessoas que sofriam repressão/perseguição pela “grande aranha”, que, neste caso, seria a ditadura. No fragmento “Ay, que vida es esta dijo un cazador /salieron a matarse todos los animales oh oh oh”, também se faz uma alusão a questão da violência, visto que no papel do caçador estaria representado os militares que estariam caçando os animais e as pessoas consideras “subversivas”. 


Serú Girán foi outra banda da qual fez parte Charly Garcia5, com o apelido de “Os Beatles Criollos”. Seu primeiro disco saiu em 1978 e nele está a canção Autos, jets, aviones. A letra da música destaca:


Autos, jets, aviones, barcos /se está yendo todo el mundo ves cómo la

Cruz del Sur /está cambiando de rumbo? /Por el Ecuador y el trópico /el
Sol saluda a nueve vagabundos /porque en tierra nadie queda, /la verdad
es que se está yendo todo el mundo.


Nesta canção há uma mistura de música brasileira com o funky e sua letra,. Faz menção a questão dos exílios que ocorreram na época do regime militar argentino.


Charly Garcia nasceu em 1951. Foi considerado um dos grandes ícones do rock argentino. Tocou em diversas bandas no país, como, por exemplo, Serú Girán, La Máquina de Hacer Pajáros e Sui Generis, lançando sua carreira solo no ano de 1982. No ano de 83, lançou o álbum “Clics Modernos” onde se encontra a música “Los Dinossaurios” que faz referência aos desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar argentina:


Los amigos del barrio pueden desaparecer/Los cantores de radio pueden

desaparecer/Los que están en los diarios pueden desaparecer/La persona
que amas puede desaparecer./Los que están en el aire pueden desaparecer
en el aire/Los que están en la calle pueden desaparecer en la calle./Los
amigos del barrio pueden desaparecer,/Pero los dinosaurios van a
desaparecer.


Na letra de Charly Garcia, os trechos Os amigos do bairro podem desaparecer/ Os cantores de rádio podem desaparecer/ Os que estão nos jornais podem desaparecer/ A pessoa que você ama pode desaparecer./ Os que estão no ar podem desaparecer no ar/ Os que estão na rua podem desaparecer na rua/ Os amigos do bairro podem desaparecer, mostra-se a preocupação do cantor com os desaparecimentos de pessoas, a censura aos cantores e aos veículos de comunicação, acontecimentos que ocorriam no período da ditadura militar na
Argentina. Já na parte final da letra, Mas os dinossauros vão desaparecer, a palavra “dinossauros” está relacionada aos militares que estavam no poder. Assim, o verbo ir substituiria o verbo poder (usado por quase todo trecho) para ratificar a ideia que a saída dos militares no poder era inevitável. Por volta do início da década de 80, surgiu a banda de punk rock “Los Violadores”, primeira banda a conquistar um grande espaço dentro do cenário do rock argentino. Iniciaram fazendo shows em pequenos locais e, desde o começo, já tiveram problemas com os militares, devido o nome da banda. Por esse motivo, precisaram trocar o nome para “Los Voladores” até o fim da ditadura9. No ano de 1983, lançaram seu primeiro disco intitulado apenas com o nome da banda. Neste encontra-se a canção “Repression” que, de forma bem clara, mostrava todo o descontentamento contra a repressão que o governo realizava. A música realizava uma crítica aberta ao regime militar argentino, fato que só é compreendido devido o contexto histórico já apontar para uma abertura política. Abaixo se registra a crítica externada pela música:



Fútbol, asado y vino/así es el pueblo argentino./Censura vieja y obsoleta/en

films, en revistas y en historietas./Fiestas conchetas y aburridas/ en donde
está la diversión perdida./Represión a la vuelta de tu casa/Represión en el
quiosco de la esquina/Represión en la la panadería/Represión 24 horas al
día/Semanas largas sacrificadas/Trabajo duro, muy poca
paga/Desocupados, no pasa nada/en dónde está, bestias, la igualdad
deseada?/Represión en pizzerías/Represión en confiterías/Represión en
panadería/Represión, yo no quiero represión/Represión en
Saturno/Represión en Plutó/Represión en Urano/Represión en el Sol



No ano de 1973, Seixas lançou seu primeiro álbum: Krig Há Bandolo!, iniciando assim, sua carreira solo. (SANTOS, 2007, p.18-25) “Como vovó ja dizia” é uma canção composta no ano de 1974 juntamente com Paulo Coelho. Inicialmente a música chamava-se “óculos escuros”, porém foi censurada algumas vezes pelos militares. Ela foi descrita sendo uma canção de protesto social contra atual situação do país naquele período (SAGGIORATO, 2008, p.81) A letra da famosa canção destacava:


Quem não tem colírio/usa óculos escuros/Tanto pé na nossa frente

que não sabe como andar/Eu deixei avela acesa/para a bruxa não voltar/Já
bebi daquela água/quero agora vomitar/Quem não tem papel
dá o recado pelo muro/Quem não tem presente/se conforma com o futuro!!!

Neste trecho, podem-se perceber alguns pontos que foram considerados críticas ao regime instaurado no país. Na frase “tanto pé na nossa frente que não sabe como andar”, fica implícito a seguinte mensagem indireta: „tanto pé na nossa frente que não sabe “comandar”‟. Assim, objetiva-se passar a mensagem de que os militares não sabiam comandar o país. Outro ponto nessa mesma música que vale ressaltar é aquele onde se diz: “Quem não tem presente se conforma com o futuro”. Essa passagem traz uma perspectiva da existência de um presente conturbado, mas que o futuro havia de ser melhor. E para finalizar essa música, temos o trecho onde Raúl
canta:
“Quem não tem Hitler, usa Pelé”. Nesse trecho, destaca-se a questão da “alienação” popular, visto que os militares usaram o tri campeonato mundial da seleção brasileira de futebol, na copa de 70, para realizar uma propaganda positiva do regime, buscando que as pessoas e desviassem o foco da violência da ditadura. Outra canção de Raúl do mesmo ano foi “Gospel”, gravada para fazer parte da novela “O Rebu”, da Rede Globo. A música foi censurada e modificada para poder fazer parte da trilha sonora da telenovela. (SCHUSTER, 2009, p.38) Assim, temos o seguinte trecho na canção:



Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?/Por que que os

sonhos foram feitos pra gente não viver?/Por que que a sala fica sempre
arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?/Por que que eu tenho caneta
e não consigo escrever? (escrever){...}/Por que que existem as canções e
ninguém quer cantar?/Por que que sempre a solidão vem junto com o luar?



Essa parte da música apresenta o medo de Seixas perante a violência do regime militar, pois se tem o medo constante da morte e, assim, a não concretização de tudo aquilo que ele sonhou. Em outro ponto, temos a questão da censura de suas músicas, devido ele “ter uma caneta e não consegui escrever”. Portanto, escrevia mais sem a devida liberdade para tal. A mesma crítica em relação à ação da censura encontra-se na parte da música no qual se afirma que existiam as canções, porém ninguém queria cantá-las. Em suma, essa parte refere-se ao medo constante de sofrer retaliações dos militares, devido às canções serem consideradas “perigosas” por eles. Por fim, “a solidão que vem ao anoitecer”, reafirma a noite como um momento perigoso para sair e se divertir, visto que no ideal militar a noite era o período em que as “pessoas dignas” deveriam estar em casa para evitar qualquer tipo de “problema”.


Outra canção de Raul Seixas que teve essa questão da crítica ao regime militar foi “Sapato 36”, do disco “O Dia em que a Terra Parou” (1977). Na letra, Seixas prega que o povo não deveria aceitar o que era colocado para eles: (SANTOS, 2007, p.61)



Eu calço é 37/Meu pai me dá 36/Dói, mas no dia seguinte/Aperto meu pé

outra vez/Eu aperto meu pé outra vez/Pai eu já tô crescidinho/Pague prá
ver, que eu aposto/Vou escolher meu sapato/E andar do jeito que eu
gosto/E andar do jeito que eu gosto/Por que cargas d'águas/Você acha que
tem o direito/De afogar tudo aquilo que eu/Sinto em meu peito/Você só vai
ter o respeito que quer/Na realidade/No dia em que você souber respeitar/A
minha vontade/Meu pai/Meu pai/Pai já tô indo-me embora/Quero partir sem
brigar/Pois eu já escolhi meu sapato/Que não vai mais me apertar/Que não
vai mais me apertar/Que não vai mais me apertar/Por que cargas
d'águas/Você acha que tem o direito/De afogar tudo aquilo que eu/Sinto em
meu peito/Você só vai ter o respeito que quer/Na realidade/No dia em que
você souber respeitar/A minha vontade/Meu pai/Meu pai/Pai já tô indo-me
embora/Eu quero partir sem brigar/Já escolhi meu sapato/Que não vai mais
me apertar/Que não vai mais me apertar /Que não vai mais me apertar



A palavra “pai” na canção está relacionada ao Brasil e “sapato” ao governo. Então se pode entender que o aperto está metaforizado como a ação governamental que oprimia a sociedade. Outro ponto interessante é a parte em que o compositor pergunta ao “pai” porque ele acha que tem direito de afogar o que ele sente no peito. Esta parte está relacionada à censura que Raul sofreu pelos militares em várias de suas canções. No fim da canção, Seixas fala sobre o momento em que foi exilado e teve de deixar o país e pode escolher o seu “sapato” e viver livre da opressão e truculência do governo militar brasileiro. 


A banda Aborto Elétrico, fundada no ano de 1979, em Brasília, por Renato Russo e Fê Lemos durou até o ano de 1981, devido uma briga entre os dois componentes. Posteriormente, surgiram as bandas Legião Urbana e Capital Inicial. Portanto, o Aborto Elétrico não chegou a gravar discos, pois não alcançou o profissionalismo. Porém, mesmo sem um disco profissional, a canção do grupo, Veraneio Vascaína, já fazia críticas severas aos militares e a violência cometida por eles.


Cuidado, pessoal, lá vem vindo a Veraneio/Toda pintada de preto, branco,

cinza e vermelho/Com números do lado, dentro dois ou três
tarados/Assassinos armados, uniformizados/Veraneio vascaína vem
dobrando a esquina/Porque pobre quando nasce com instinto
assassino/Sabe o que vai ser quando crescer desde menino/Ladrão pra
roubar, marginal pra matar/Papai, eu quero ser policial quando eu
crescer/Cuidado, pessoal, lá vem vindo a Veraneio/Toda pintada de preto,
branco, cinza e vermelho/Com números do lado, dentro dois ou três
tarados/Assassinos armados, uniformizados/Veraneio vascaína vem
dobrando a esquina/Se eles vêm com fogo em cima, é melhor sair da
frente/Tanto faz, ninguém se importa se você é inocente/Com uma arma na
mão eu boto fogo no país/E não vai ter problema, eu sei, estou do lado da
lei/Cuidado, pessoal, lá vem vindo a Veraneio/Toda pintada de preto,
branco, cinza e vermelho/Com números do lado, dentro dois ou três
tarados/Assassinos armados, uniformizados/Veraneio vascaína vem
dobrando a esquina/Veraneio vascaína vem dobrando a esquina/Veraneio
vascaína vem dobrando a esquina.






Veraneio Vascaína fala da repressão policial da época, onde o título da música faz menção ao veículo utilizado pelos policiais da ditadura, o Chevrolet Veraneio. Já vascaína vem das cores do carro que tinha as mesmas do escudo do time de futebol do Rio de Janeiro Vasco da Gama. Os “dois ou três tarados” da canção eram os policiais que estariam dentro da Veraneio. A frase “se eles vem com fogo em cima” tratava das sirenes da viatura que, se estivessem ligadas, eram de cor meio “alaranjada”, típica cor do fogo. 


Água Brava, banda carioca que mistura hard rock com heavy metal, formada no início da década de 80, não gravou nenhum disco até 85, quando lançaram um EP juntamente com Billy Bond e a banda Hojerizah. Cada uma das bandas gravou uma canção para o disco. Pressão foi a música do Água Brava, composta aproximadamente no ano de 1982, canção essa que trazia a seguinte mensagem:



Eu ontem comecei um curso de mergulhador/Eu sempre pensei que o fundo

do mar fosse um esplendor/Mas eu não fiquei, mas eu não aguentei/Não
aguentei a pressão/Aí eu pensei que poderia ser aviador/Mas então me
lembrei que acho para quedas um horror/E eu não fiquei, eu não
aguentei/Não aguentei a pressão/Ôôôôôô pressão danada/Ôôôôôô pressão
que não me deixa fazer nada





Percebe-se que o refrão da música faz referência a opressão que ocorria na ditadura militar, situação que não deixava as pessoas livres. A banda fala na realidade da opressão que restringia o direito de ir e vir, mensagem essa passada dentro de uma letra sem muitas pretensões, mas que, no fundo, tinha um cunho reivindicador que era transmitido de uma forma muito interessante. 

Gothan City é uma canção composta por Jard Macalé e cantada por ele no Festival da canção popular, que ocorreu no Maracanãnzinho, no Rio de Janeiro, na década de 1960. (SOUZA, 2015, p.91) A música não chegou a ser gravada, ficando conhecida apenas com a regravação da banda Camisa de Vênus no seu segundo álbum Batalhões Estranhos. Na letra encontramos:



Aos 15 anos eu nasci em Gotham City/E era um céu alaranjado em Gotham

City/Caçavam bruxas nos telhados de Gotham City/No dia da
Independência Nacional.Cuidado!/Há um morcego na porta principal
Cuidado!/Há um abismo na porta principal/Eu fiz um quarto bem vermelho
aqui em Gotham City/Sobre os muros altos da tradição de Gotham City/No
cinto de utilidades as verdades/Deus ajuda a quem cedo madruga em
Gotham City./Cuidado!/Há um morcego na porta principal/Cuidado!/Há um
abismo na porta principal/No céu de Gotham City há um sinal/Sistema
elétrico e nervoso contra o mal/Tem um sambinha, tem futebol e tem
carnaval/Todos estão dormindo em Gotham City./Cuidado!/Há um morcego
na porta principal
Cuidado!/Há um abismo na porta principal/Os mortos vivos perambulam em
Gotham City/Agora vivo o que vivo aqui em Gotham City/Chegou a hora da
verdade em Gotham City/E a saída é a porta principal./Cuidado!/Há um
morcego na porta principal/Cuidado!qHá um abismo na porta

15esta música, ao substituirmos algumas palavras, o entendimento fica muito claro. As bruxas seriam os comunistas (subversivos) e Gothan City o Brasil. Já em relação ao “quarto vermelho pintado sobre os muros altos da tradição”, evidencia-se a aversão dos militares ao comunismo (Cor Vermelha). Samba, futebol e carnaval seriam as formas que os militares usavam para “alienar” as pessoas, que preferiam dormir para não perceberem o que estava acontecendo no país. Os “mortos vivos perambulando” seriam os presos e desaparecidos políticos, ao mesmo tempo em que o morcego seria o aparato repressivo dos militares. Por fim, “hora da verdade” estaria relacionada à questão de revolução, instrumento para acabar com a ditadura militar.
No ano de 1984, destacou-se a música
Metrô Linha 743, de Raul Seixas, gravada no
disco de mesmo nome. A letra da música fala de como os militares agiam ao
encontrar um suspeito:
Ele ia andando pela rua meio apressado/Ele sabia que tava sendo
vigiado/Cheguei para ele e disse: Ei amigo, você pode me ceder um
cigarro?Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado/Dois homens
fumando juntos pode ser muito arriscado!/Disse: O prato mais caro do
melhor banquete é/O que se come cabeça de gente que pensa/E os
canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam/Porque quem pensa,
pensa melhor parado. {...} O homem apressado me deixou e saiu voando/Aí
eu me encostei num poste e fiquei fumando/Três outros chegaram com
pistolas na mão,/Um gritou: Mão na cabeça malandro, se não quiser levar
chumbo quente nos cornos/Eu disse: Claro, pois não, mas o que é que eu
fiz?/Se é documento eu tenho aqui.../Outro disse: Não interessa, pouco
importa, fique aí/Eu quero é saber o que você estava pensando/Eu avalio o
preço me baseando no nível mental/Que você anda por aí usando/E aí eu
lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando

Na canção observa-se um homem que suspeitava estar sendo vigiado pela polícia e passava pela rua bem desconfiado, assim, ao ser interrompido por Raul que o pede um cigarro, ele cede, mas pede para ele se afastar pois se ficassem juntos ali na rua poderiam ter “problemas”, pois os militares (“os que comem cabeça de gente que pensa”) poderiam pensar que eles estariam tramando alguma coisa e, assim, prendê-los, visto que quem “pensa”, faria isso “melhor parado”. Após isso, Seixas é rendido por alguns policiais que estariam interessado no que ele estava pensando (ou fazendo ali parado após ter se encontrado com suspeito), pois quem “pensa” era 
considerado perigoso para o regime e quanto mais se pensava mais suspeito e vigiado a pessoa era.